4. largos passos

.






29/12/2008, segunda-feira, bênção do padrinho caronista.


fugimos da pensão antes mesmo do café. o céu tinha frio um azul. subimos toda a cidade ladeirosa até a entrada do parque da serra. seriam mais 16 Km pra chegar à nascente do rio. a chuva dos dias anteriores dificultou o acesso. paramos em frente ao cemitério. fui me informar pela cidade e Pedrinho ficou com as coisas.


descanso d'alma.


acordei uma moça que fazia conduções, mas era caro ir com ela. demorei um bocado procurando. voltei e duas possibilidades de carona foram desperdiçadas. culpei-me. ficava tarde e queríamos seguir caminho, já que perdemos um dia em Piuhmi. hoje vejo que não havia pressa. mas no momento aceitamos que não assistiríamos o Velho Chico nascer. tristeza, mas foi escolha. o ano novo se encurtava.


pé de Serra da Canastra.


melancólicos, paramos no posto de gasolina bem na saída da cidade. seríamos obrigados a voltar por Piuhmi, já que uma outra estrada de terra que cortaria um belo caminho por entre fazendas estava interditada por causa da chuva. um pessoal de moto sacaneava se éramos de Marte.

ouvi um senhor falando ao celular e ele mencionou o nome de uma cidade - Bambuí-MG - que seria um ótimo destino pra nós, pois seguiria já mais pro norte acompanhando o São Francisco. Pedrinho o abordou. o homem receou mas logo topou nos caronar. em minutos, o ânimo já esperançava novamente.


de horizonte à caminhada.


carona em grande estilo com o mineiríssimo Arthur, engenheiro da Petrobrás. Incrivelmente, ele pegou o atalho pela estrada barrenta. conhecia de palma aquelas lamas. foi o primeiro a nos incentivar com a viagem. adorou a idéia de saber que seguiríamos o máximo que desse de carona até Natal-RN. ensinou muito sobre o Velho Chico pelo caminho. discute-se o local exato da nascente. projetos fazendeiros de irrigação e retenção de água da chuva para melhor aproveitamento do solo. contou muitas estórias de carona que deu. de recém-casados a assaltante. indicou livros. já teve uma loja de futilidades, cuja renda investia em viagens. paramos no meio para cumprimentar o prefeito...


Arthur guiando a Bambuí - MG.



surpresas do atalho.


...prefere músicas melodiosas ao batuque africano. defende o comunismo (não o de Stalin), mas é a favor do latifúndio como forma de produção eficaz. participou de muitos comícios e confusões na ditadura militar. descreveu lugares brasileiros com certeza e fantasia. foi um amigo próximo. sem limitações de saberes. tipo de conversa que acrescenta, tamanha despretensão. retificou a importância de um caroneiro e um caronista. os mundos que se abrem. parecia que se via em nós.

fez um tour por Bambuí. nos levou em sua casa e apresentou suas duas filhas. tudo havia sido muito rápido. decidimos seguir estrada. aproveitar o pouco tempo perdido. o errado que deu certo. mais um ensinamento. Arthur nos deixou num pequeno ponto de ônibus na saída da cidade. "Ow, cês tão vivendo!" - frisou mineiramente.



mão do padrinho caronista.


água ventosa despencou enquanto tentávamos carona em baixo de uma marquise. sorte existir aquela construção solitária. primeira tentativa com plaquinha escrito o nome de cidade.


...pois vem chuva.


meia hora e um caminhoneiro senhor parou. fingia que ia acelerar enquanto jogávamos nossas mochilas na caçamba molhada. corremos pra dentro do carro e agradecemos a bondade. 5ª carona com Tico-Tico.


dirigindo no escuro com Tico-Tico.


um senhor de poucas palavras e meio surdo. toda fala tinha que ser alta e claramente repetida. muito não entendia. sorria ao ouvir. restringiu conversa. só sei que afirmou não dar caronas. mais uma sorte. deve ter ficado com pena da situação. largou-nos no trevo de saída da cidade de Luz-MG. nem entramos. seguiríamos para Abaeté-MG, onde pararíamos. pra lá de 200 Km só naquele dia.


ponto de trevo.


mais um ponto de ônibus ao lado do trevo. dois rapazes também tentavam carona, preguiçosos porém. conversamos e logo desistiram. se foram de condução. esperamos em torno de 1h30 com plaquinha de papelão e conseguimos.


Pedrinho e a função árdua.


6ª carona com o casal sossegado Ronaldo e Gislene. a mulher, que só o acompanhava, estava receosa quanto a nós. ele parecia tranquilo no seu trabalho de transportador intermunicipal de mercadoria. paramos no meio da estrada para a esposa fotografar um castelo de um magnata mineiro no meio das montanhas. conversamos pouco. ligeiro cansaço e fome.



Abaeté vadia.


Abaeté-MG foi simpatia à primeira vista. almoçamos antes de tudo. pousada de Sandro e Raquel. R$ 12,50 com café da manhã. hospitaleiros e muito afetuosos. fiz lembrar o filho dela, também Gabriel. preocupou-se com nossa viagem. Sandro afirmou que homem que não gosta de animais e plantas não entende de vida.


Raquel e Pedrinho


demos uma volta na cidade. gostamos bastante. compramos outra cachaça de um fazendeiro muito caprichoso, segundo o rapaz da venda. guardamos pro reveillon. procuramos pelo prédio mais alto da cidade e conseguimos ir no de rádio/tv. conversamos com o pessoal do último andar e nos foi liberado uma visita ao terraço para ver a vista. todos riam e se faziam curiosos da nossa condição viajante. nos eram simpáticos e curtiam.


el topo de la ciudad.


de noite, lavamos roupa. Raquel nos serviu jantar de mãe. muito bem preparado e à vontade. todos os poucos hóspedes sentaram e conversamos. foi bem agradável. violão digestivo.


bléim.


dia seguinte, última viagem antes de zerar o calendário.

zZzZz...



.

2 comentários:

Marcelo disse...

Cara, pegar carona é mágico!!

Emy disse...

O mais legal é que voces passaram por varias cidadezinhas de minas. Luz fica do lado de lagoa da prata, onde meu pai mora!

Instigada :]