14. fronteiras

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18/01/2009, domingo sertanoso.


acordar. fomos trocados de pousada, para outra da mesma dona, pois uma banda da Bahia se apresentaria mais tarde num trio elétrico e reservara todos aqueles quartos. banda "Imortal". lavamos roupa.


secar instantaneamente.


batemos um almoço. andamos pra conhecer o porto da balsa de Belém. ainda em movimento pela cidade, assinalei prum carro e ele parou. pedi que nos levasse ao "porto da barra", como é chamado. fomos surpreendidos por uma paisagem avassaladora de sertão. esqueci o nome do rapaz. tinha o Che Guevara estampado em estêncil no porta-luvas. saltamos no meio do caminho muito agradecidos.


lá...


mimetizando.


com miragem.


nuvem religiosa.


chegamos sedentos. a garrafinha d'água estava no ponto. geladíssima. perguntei a um rapaz encostado no balcão se, para chegar à Paulo Afonso-BA, era melhor seguir por Pernambuco ou atravessar de balsa pra Bahia e de lá continuar. (o Rio São Francisco faz fronteira nesse trecho entre os dois Estados e seguíamos em direção à foz). Gilson respondeu que era melhor e mais seguro ir por Pernambuco devido à estrada. identificou-se como policial militar e sugeriu-nos que pedíssemos carona à polícia que fica na saída da cidade. talvez fosse possível que nos levasse. a moça da cantina ouvia tudo e puxou assunto dizendo que já havia viajado muito pelo Brasil. morou um tempo em Fortaleza quando namorava um alemão. e afirmou que pernambucano é muito desconfiado.


toaletes.


esperando travessia.


na volta entardecente, Estela, dona do bar do porto, nos abordou de súbito perguntando se éramos dali. alertou que não era bom seguir andando aquele sertão até a cidade, pois acontece muito assalto. foi estranho. ela surgiu do nada e metralhou o currículo de sua família, intercalando com perguntas sobre o que fazíamos da vida. e ainda disse: "tá vendo essa parte do Rio aqui na frente (referindo-se ao São Francisco)? é meu!". devia muito que ter orgulho de si. ao menos, nos ajudou a arranjar quem nos levasse de volta à pousada. vai viver pra entender...

rápida cerveja na pastelaria e caminhada pelo ruim, porém engraçado, trio elétrico que cantarolava uma sonata popular "vaza canhão!". a festa era cedo e dava a volta em alguns quarteirões. acarajé. passeio pela noite animada. banho e o duelo com o mini-sapo do chuveiro. dia seguinte, seguir em frente.

sonos.



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19/01/2009, segunda-feira mofada (macaxeira até os ouvidos).


cedíssimo de pé. pagamos parte da estadia com frutas que ganhamos no dia anterior e não deu tempo de comer. já carregávamos muito peso. o resto demos em dinheiro. paramos no meio da caminhada de saída pra comer pão com mortadela e queijo, enquanto colhíamos informações. tentamos na prefeitura, mas só abria mais tarde. entramos no posto policial militar e tentamos ver se alguma viatura ia à Paulo Afonso-BA. tudo em vão. levantar dedo e esperar...



espera...


uma mulher sozinha na nossa frente conseguiu uma carona. dois barbas perdem pra uma cacheada. passou um tempo e Sandro nos salvou ao encostar. um rapaz que esperava sentado embaixo da sombra tentou se agregar à nossa conquista árdua, mas Sandro só aceitou a nós. com duas filhas pequenas que adoram dançar e a mulher no banco de trás, seguíamos em direção à Floresta-PE na 22ª carona da andança.

saltamos e já tivemos que andar mais até o melhor ponto pra carona. que lugar seco e longe! sensação que tive foi de distância. um subir e descer ladeira, beirada de lagos secos. som de carro de às vezes. maluquice de estar. realização solar.


secando.


pegamos água no posto policial. um deles gentil, o outro babacão querendo tirar sarro. ficamos perto da cabine para que os motoristas desconfiados não tivessem medo de nós. dois camaradas já mofavam ali desde cedo, o que nos desanimou. muito, mas muito calor. voltei pra pegar água com os policiais. 2 horas de espera. alguns poucos até paravam, mas nunca era o destino melhor. creio que como éramos muitos a esperar, dificultava. bodes passavam com sininho no pescoço, cenografando a estrada. pairávamos.


tssssss...


ainda ali, nada menos que quatro mulheres chegaram pra tentar carona e em torno de 20 minutos um carro com caçamba parou e levou-as. deu raiva aquele momento. uma moça também chegou logo depois e rapidamente se caronou. os dois pangarés que nem acenavam conseguiram com um caminhoneiro conhecido deles que não quis nos levar na caçamba. mais uma raiva entubada. fome e cansaço latejavam. um carro parou e disse que nos levava, mas o motorista e os dois amigos fediam à cachaça. nos esquivamos. não teve jeito, pegamos um ônibus que passou já por volta das 16 horas e que nos levaria, enfim, à Paulo Afonso retornando Bahia.

parada do ônibus no caminho. côco gelado e doce por R$ 1! um rapaz comentou até minha felicidade. no banheiro, o malandro do motorista veio nos abordar. disse que era melhor que acertássemos ali mesmo e ele nos deixaria em frente a um lugar bom na cidade. um enrolão. queria nosso dinheiro sem que tirássemos as passagens para ele embolsá-lo. não faria diferença pra nós e não tínhamos pique pra discutir ali no meio da estrada com o cara. topamos e ficou por isso mesmo.

o motorista nos largou logo na entrada de Paulo Afonso-BA. tivemos que pegar uma condução, pois estávamos meio perdidos. a cidade tinha um porte médio, mais ou menos 100 mil pessoas. achamos uma pousada por R$10. largamos as coisas e fomos desbravar. comida, por favor! pegamos informações sobre as idas às famosas represas e cachoeiras de lá. é um local de fronteiras - Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. descobrimos que tudo era burocrático demais. controlado pela CHESF, necessitando autorização até pra olhar. não queríamos peder dias lá, já que a foz do rio se aproximava.

jantamos na "Vó Tereza". muito simpática e prestativa. prometeu tentar contactar um amigo da CHESF pra nos levar nos picos. deixei meu telefone com ela. perguntou-me sobre as obras de transposição do São Francisco. caprichou na macaxeira com carne de sol. fiquei seriamente entalado de tanta, precisando caminhar até digerir. "amanhã você vai conferir melhor" - sacaneou o garçom baiano. realmente, um clima mais ameno. o sertão foi um pouco ríspido.

volta pra pousada. banho.


sono.



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2 comentários:

Anônimo disse...

gosto das fotos do chão rachando..
bjs
Clarice.

Marcelo disse...

Cara, o sertão é dureza, né? Lembro do sol matando eu e Maíra, sem sombra nenhuma.. E, de fato: dá muita raiva de umas mulheres chegarem para caronar e saírem na frente.. hehehe

P.S.: ri muito alto quando li isso! hahaha