5. adios nonino viejo

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30/12/2008, terça-feira, o pescador do sertão.


padeci com neblina naquela manhã do interior. caminhada de praxe após o café. cumprimento é corriqueiro por lá. uma senhora perguntou na rua se eu ia tocar em algum lugar logo mais. de súbito, respondi que sim e continuei. achei que aquela mentira inútil seria saudável. placas curiosas pela cidade.


manifesto.


desconstrução.


vista graciosa conforme nos afastávamos. lembrava maquete. esse céu que encobre Minas Gerais é cúpula de azul precioso. não cansava em percebê-lo.


distanciando...


3 horas de espera. banana e bolo pedido por nós numa das casas próximas dali. rotina lenta do campo nos aprazia. olho acompanhava estrada. tinha, ao menos, sombra que nos confortava.




saída de Abaeté.


finalmente, a 7ª carona com Elvécio e Deivis numa aconchegante blazer com os vidros abertos. banho de vento até a cidade de Morada Nova de Minas-MG. os tapetes mineiros dão vez aos estradeiros. papo ligeiro sobre futebol. não gostam da empresa São Paulo Futebol Clube.

paramos na vendinha. biscoito. tínhamos que pegar uma balsa para continuar o percurso até a cidade de Três Marias-MG. o padrinho Arthur havia nos indicado curtir a virada de ano por lá. há uma represa que forma uma costa de água doce banhada pelo Rio São Francisco em pleno interior mineiro. copacabana são franciscana.


eu vou de chapéu de palha, eu vou...


som...bra.


a cidade de Morada Nova abrigava fantasma. como se alma ecoasse a três quadras norte. sol duro de meio-dia. muito do que se pisava era de se arrastar. alaranjado. pracinha-de-estar era recanto de sombras. e eu com chapéu de palha sem dó de chacota. porto das balsas a 18 Km do centro.


onde a cidade desanda.


ao lado de um aeroporto particular a fazendeiros, um quiosque munido de silêncio, fandangos, cachaça e água servia de fronteira entre estrada de terra e cidade. lá, encostamos calorentos. água, por favor. eis que um sujeito turvo recostava-se quieto na cadeira. perguntamos sobre itinerários e caronas.



quiosque sombreiro.


Lindomar vestia uma camisa de pescador e pôs-se a delatar sobre suas vivências viajantes. contou que passou 8 anos distante de casa conhecendo o país. muito como caminhoneiro. quase morreu por mulher e malária. atravessou parte do Rio Amazonas. nos deu dicas valiosas sobre o nordeste. o que conhecer. por onde não passar. qual estrada atravessar. mantimentos necessários, como rede de nylon e rapadura, além de frutas. suas verdades fajutas nos alargou. não importava o teor da informação. momento grande de espontaneidade. se não era, foi verdade. e ponto. aliás, em cidade de reticências, ponto é estaca.


Pedrinho e Lindomar.


1 hora de conversa fora até surgir um caminhoneiro deveras cansado. bufava por água. Lindomar o tratou intimamente e nos adiantou a carona. o rapaz receou bastante. falou que estávamos com muita mala. insistimos caber. aceitou levar só até a balsa mesmo. agradecemos.



couberam.


terra e caminhão.


Fernando foi a carona. já a caminho, confessou não fazer idéia de quem fosse Lindomar e que estava prestes a se aposentar de seu cargo na polícia federal. por isso, pensou duas vezes antes de nos caronar. e disse ainda que podíamos até puxar uma faca que ele não ligava. queria mesmo aposentadoria. orgulhava a filha jornalista da Globo. dirigia desde cedo. ofereceu um pedaço de linguiça e carne de anta enrolados num guardanapo. comemos antes de responder. nosso pré-almoço.


represa de travessia


na balsa.


primeiro contato real com o Rio São Francisco. água represada. já se fazia horizonte: céu encurvado por montanha com reflexo plácido. cabia de tudo na balsa de travessia. alguns caminhões, carros e um ônibus. tivemos que sondar transporte por ali mesmo. só conseguimos uma vaga. Pedrinho foi sozinho na 9ªcarona com o sorveteiro de fórmula-1 Ronaldo e eu de ônibus. dividimos o preço da passagem e nos encontramos na rodoviária de Três Marias-MG. o sol deitava de entardecer. fome endurecia como argamassa no estômago.




la trinchera



primeira impressão não muito boa de Três Marias-MG. ladeiras esquisitas e grande movimentação pelas ruas. opondo a calma de Abaeté e Morada Nova. música ruim vinda de carros. confusão de últimos dias. pousada trincheira de guerra ao cenário da vila do Chaves. R$ 12,50 com café-da-manhã. já recrutávamos o esquadrão Chucky Norris. descabaçando frescuras. mercado pra abastecer e cozinhar. pela noite, o clima era mais tranquilo. sorvete Joel e feira de alguma coisa. o locutor da festa só sabia dizer "bom dimais!!", em bom sotaque mineiro.

sono, por obséquio. estrada, enfim, só no ano seguinte.





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31/12/2008, quarta-feira, terminando pelo quase.


acordando tarde merecidamente. mormaço de iminência. passear mais calmamente e observar melhor a cidade era meta do dia. 6 Km até a praia represada. fomos de mototáxi. dividiam beira de calçada. espaço para todos. alguns quiosques na modesta orla. rápido reconhecimento do local e mergulho. enrugamos na banheira mineira. o tempo escorria devagar. o suficiente para massagear os registros da viagem. um cais flutuava enquanto vários brincavam de salto. sol à pino. bronze e fome. pf digno de almoço. pegamos carona de volta pra pousada com uma família numa van. sorvete e repouso.


compreendido...


Pedrinho espalmando renovação.


quiosques de orla.


cais flutuante.


recompostos. garrafas em mãos. fógos esporádicos grafando o momento.

22h30: procurávamos transporte para nos levar à praia. situação confusa. tudo ocupado e mototáxi disputado. esbarramos com dois sujeitos na mesma situação que nós. combinamos de rachar um táxi. nada de conseguir. agora o tempo alastrava. senti que os dois não sabiam como se virar por lá direito.

23h30: goladas secas de cachaça. quase desistência. eis que um dos caras reconheceu um carro velho que simplesmente passeava pela rua, em plena véspera. corremos em direção a ele e imploramos uma carona até a praia. o dono da belina falou que levava a gente por R$ 15. não havia que pensar muito. dava pra rachar por quatro. ao som brega e desapressada, a carroça reagia. pelo que entendi, um dos caras chamava o motorista de tio, que de tio não tinha nada. ou seja...(?)

23h57: chegamos ao destino. alguns precoces já comemoravam fógos. a virada não me pesou de tão grande que eu alcançava. sem pretensão de sê-lo. não viajava para aquela festa exatamente. era só mais um evento. descansei o olhar pro céu. de tão escuro, meditava minhas sensações. mulheres escassas. cantamos pulando no cais aos relâmpagos esparsos. ensaio de chuva. pingos que molham. volta de mototáxi.


conversa de asfalto. filosofia de calçada. sono.



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2 comentários:

Laura Zandonadi disse...

que jeitinho gostoso de nos narrar os fatos. histórias transbordando poesia... tô gostando muito, querido!

beijim

Marcelo disse...

Feliz ano novo! E nessa hora, a viagem já tomava conta.