13. rapadura é doce, mas...

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16/01/2009, sexta-feira dormindo no caminhão.


a cidade de Pilão Arcado-BA tinha cara de manhã. bem pequena. chegamos logo na saída. violão sentado na espera por uma carona. depois de 2 horas, já desistindo, caminhando em direção à rodoviária, um caminhão topou nos levar à Remanso-BA, última cidade baiana antes de pisar em Pernambuco. foi a 19ª carona na caçamba de Didi e seus companheiros. só sei que engolimos poeira seca durante 1 hora e meia.



laranja sol.


Didi gente boa parou no posto de saída de Remanso-BA e desculpou-se por não poder continuar à Petrolina-PE, mas nos adiantou a próxima carona num caminhão que abastecia. foi perfeito. Juvenal e Dean eram a 20ª carona. fomos na cabine de um caminhão que estava sendo guinchado por outro caminhão. enfrentamos uma buraqueira desgraçada a 40 Km/h numa estrada conhecida como perigosa de fronteira e completamente deserta. sertão mais brabo que já tinha visto até então.


tour no reboque (VÍDEO).


ficamos à vontade na cabine, comendo banana, tocando violão, tirando fotos, até descansamos. os dois caminhoneiros eram figuras. encostamos para beliscar um bolo com coca-cola numa parada de ônibus depois de 3 horas na estrada. alertaram para tomarmos cuidado com os travestis da Bahia conhecidos como "baiano-de-penca".



paisagem memória.


a viagem durou mais ou menos 6 horas até finalmente chegar em Petrolina-PE. tomamos susto à primeira vista. cidade grande. não estávamos nesse clima. nos deixaram na saída da cidade, onde teria uma pousada mais barata. Dean indicou onde era sua casa e falou para passarmos lá no fim-de-semana, já que pretendíamos ficar até domingo, aproveitando para conhecer Juazeiro-BA. as duas cidades são ligadas por uma ponte que atravessa o São Francisco, dividindo os Estados da Bahia e Pernambuco.


chegando em Petrolina.


quebramos a cara. a pousada mais barata era R$ 50 pechinchados a diária. sem chances. não tinha muito como sair dali com toda nossa bagagem e começava a escurecer. tínhamos que pensar rápido em alguma solução. tive a idéia de tentar pedir abrigo para Dean só por aquela noite. no dia seguinte decidiríamos como fazer. Pedrinho me esperou com as coisas no posto de gasolina enquanto corri (mesmo!) 1 Km pela BR até achar a casa do caminhoneiro. atendeu-me bem, mas não pôde nos oferecer estadia. disse que era a casa do pai. ficou de ligar mais tarde para confirmar. mas acho que estranhou desconfiado.

voltando ao posto, Pedrinho e eu tivemos uma discussão, pois eu deixei cair seu casaco no caminhão. teríamos que voltar na casa de Dean no dia seguinte para buscá-lo. começou a chover muito forte. águas de março em janeiro. comemos por lá mesmo. sondei opções de dormitório pelo posto com o segurança, que ofereceu um canto embaixo da marquise. tentei também com Moisés, fotógrafo aéreo, que depois de conversar topou nos agregar a seu quarto no hotel ao lado. seu companheiro de trabalho que não gostou da idéia. preferi deixar quieto. finalmente, consegui onde estender nossos sacos-de-dormir. e de graça. dentro de um caminhão que estava estacionado no posto e sairia no dia seguinte bem cedo com Alberto e Junior. os dois estradeiros conversavam deitados em suas redes amarradas no baú junto das mercadorias (biscoitos). Dean não retornou a ligação.

banho no chuveiro do posto de gasolina. um rapaz veio nos oferecendo esquisito "quer comprar um celular baratinho?". negamos e ele se foi. totalmente aleatório e engraçado. estendemos nossas camas no chão do baú do caminhão, ao lado dos biscoitos. conversamos um pouco com os caminhoneiros antes de pegar no...


sono.



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17/01/2009, sábado cruzando a terra da massa.


sono ruim, mas válido. houve uma festa por perto e rolou música alta a noite inteira. antes do sol brilhar, já caminhávamos 1 Km em direção à casa de Dean para resgatar o casaco de Pedrinho. para nossa surpresa, ele não estava em casa. havia saído na noite anterior para trabalhar na estrada. esperamos sentados na calçada com o violão. molecote chorão e vendedor de banana à cavalo. depois de tanto tentar resolver, Pedrinho conseguiu com a mulher do caminhoneiro que achasse o casaco esquecido dentro do caminhão que fomos (o rebocado).




Petrolina periférica.


já eram 9 horas e tínhamos pressa. sábado era o pior dos dias para pegar a estrada. por sorte, muito de súbito, Sérgio e Marconde encostaram o carro e toparam nos levar na caçamba. nossa 21ª carona. vento libertário no rosto. pegaram um caminho alternativo. mostraram plantações de melão e brócolis por fazendas. também um canal de irrigação do Rio São Francisco.


canal Chico.


faltando 5 Km para chegar na próxima cidade, carros piscavam farol para nós. Sérgio parou no acostamento, pediu desculpas e disse que não podíamos continuar, pois devia ter blitz policial mais à frente e é proibido caronar, ainda mais na caçamba. não tivemos alternativa, continuamos andando pela estrada esticando o dedo. um péssimo lugar para pedir carona. trecho perigoso. pessoas mais desconfiadas. sol estridente. velocidade pesada de carros e caminhões. passamos pelos policiais que nada fizeram conosco. quase 2 Km e não havia mais condição de andar com tanto calor. paramos em frente a um assentamento do MST e esperamos uma condução.


situação...


pegamos uma van bem cheia. chegando em Lagoa Grande-PE, desgostamos de cara. muvucado de pessoas. muitas vindo em cima, oferecendo coisas. a van ficou parada esperando novos passageiros. compramos água e voltamos. decidimos continuar caminho até um lugar que nos parecesse agradável. nesse trecho, havia cidade a cada 60 Km, passando pelo famoso poligono da maconha pernambucano.


mais seres que vivos.


o pessoal de dentro do carro começou a interagir. um coroa muito engraçado chamado Afonso conhecia muito da região e fazia piadas sobre o motorista mercenário. agradecia aos céus pelas chuvas recentes. sua mulher, Marlene, gargalhava com as tiradas do marido. o paulista Paulo sabia como aproveitar o solo rachado do sertão com plantações de amora. afirmou que é uma fruta que resiste à secura e que alimenta o gado. nossa viagem o animou. prometeu fazê-la de moto com a mulher. contou que já viu belas paisagens em Minas Gerais.

Santa Maria da Boa Vista-PE foi a próxima parada ainda indesejada. conversamos com o rapaz do quiosque sobre os perigos da estrada. ele nos acalmou que os piores tempos já se passaram. agora é só alarde da mídia. nos aconselhou continuar, pois ali seria ruim de conseguir caronas. aceitamos ir com a van até seu destino final em Cabrobó-PE. no caminho, o bagageiro abriu e a mala de Marlene rolou no asfalto. ela ficou indignada. o motorista deu ré para buscar. Afonso jocoso alfinetava "pare de chorar sobre o leite derramado!". pela janela da condução, a cidade de Orocó-PE nos pareceu bem simpática, mas preferimos seguir o máximo para cruzar depressa aquela região.


...e urubus.


Cabrobó-PE é conhecida pelos perigos nordestinos. as mulheres traem os maridos que depois tratam de caçar os amantes. vestígios cangaceiros. lá agora também ocorre uma grande obra do governo para desviar parte do Rio São Francisco em canais de irrigação a locais secos. discussão que persiste com política e seus interesses. foram péssimas as tentativas de caronas por ali. as pessoas passavam e ignoravam. em meia hora aguamos com 3 litros gelados.

rendemo-nos a pegar uma lotação com Zé. nos colocou junto das malas na caçamba coberta. enquanto nos ajeitávamos calorentos, um desconhecido abordou:

- quanto ele cobrou de vocês?
- cinco reais, respondi.

ele sacou uma nota de R$ 5, me deu e se virou em partida. não entendi nada. Pedrinho perguntou:

- qual é seu nome?
- Luisinho.

e se foi numa van. mais uma daquelas situações inusitadas que mostram a bondade gratuita. seguimos ao nosso último destino do dia em Belém de São Francisco-PE.


pela terra da massa (VÍDEO).


Zé é morador de Belém de São Francisco e faz essas pequenas rotas pela região pra tirar um dinheiro. rapaz interessado e boa gente. rodou conosco até achar um lugar bom pra ficar. paramos na pousada da simpática Ironilda. a cidade é muito simpática. pacata. entocada. perto do Velho Chico com certa distância da estrada. deixamos as coisas no quarto e fomos passear.


parte urbana.


fundos de Belém.


feirinha de comida e roupas. Pedrinho gostou do chapéu verde limão. nenhum me serviu.


dia de feira.


Mírian perguntou de onde éramos. pouco falamos e ela já nos ofereceu de comer. quaisquer frutas de sua barraca. pegamos melão manga e tangerina. beira do rio com pescadores, crianças e moradores fazendo travessia de barco.



mais uma beira do Chico.


almojanta no fogareiro com miojo, batata, cenoura, ervilha e carne de soja. e um pouco de descanso. decidimos passar o fim-de-semana por lá. ir embora só segunda-feira de manhã.


marcas ensolaradas.


noite calorenta pedindo diversão depois daquelas últimas horas intensas de situações inusitadas e estrada. pizza de bode anunciada. paramos numa pastelaria com sinuca e cerveja. cardápio pitoresco.





conhecemos Suzy, Carol, Mariana, Marta, Lorena e André. jogamos Ludo comendo pavê de bis. um pedinte surgiu às 2h da madrugada clamando por água. demos um pouco. ele queria mais e mais. não demos. ele se foi e o vimos de longe bebendo água do chão. cena bizarra.

dia seguinte pra acordar tarde e lavar roupa.


sono.



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Um comentário:

Marcelo disse...

Essa bondade gratuita nos faz evitar as cidades grandes e a desumanização das pessoas. Cara, é engraçado, depois quando tudo passa, relembrar as situações de aperto e estresse.. hehee.

Muito boa a fotos dos pés queimados!!! É assim mesmo!! Ótimos vídeos!