06/01/2009, terça-feira de todos os santos.
literalmente, Teresa nos ofereceu somente um cafezinho. passamos numa padaria tomamos uma deliciosa vitamina de banana com mamão e dois pães com manteiga. compramos bananas pro estoque de 6h de viagem. passei na lotérica e vi que meu bilhete tinha 11 acertos! feliz, busquei meu prêmio de R$ 2. fomos ao porto e nos deparamos com a gaivota que nos levaria à Bahia.
em favor da correnteza.
uma lancha de madeira para 12 pessoas abrigava 40 e suas bagagens. os barqueiros fazem esse trajeto todos os dias. nos parecia mesmo a melhor opção. seria pelo Rio São Francisco. calor que abafava. rio de molhar e beber.
meio dia.
bagagens protegidas ao fundo.
imaginação.
a todo momento, alguém pedia que o deixasse em um suposto cais no meio do nada. moradores da região mesmo. cenário de filme. às vezes, a família esperava na beira do rio. fronteira sertaneira que só vendo. o tempo é íntimo da natureza.
vozes arrastadas de Bahia sempre sacanas em piadas: uma moça gorda mexia com todos os passageiros - "esse carregamento é pros homi!" -, um lhe retrucou sarcástico - "vai fazer nada com esse braço grande aí não?". perguntaram também sobre nossa viagem e afirmaram "cês tão de vizinho".
vizinhança.
janela de urinol.
conforme chegávamos, uma nuvem sentia nosso cheiro de longe. nos seguia e anunciava o mato de amanhã. a lancha picou-se veloz pra escapar. já éramos Bahia prestes a desembarcar em Carinhanha. ajeitamos novamente nossas proteções de chuva nas malas.
cospe luz.
saltamos e e nem hesitamos em procurar saber do próximo ônibus. já eram 17 horas. estava tarde pra caronas, lembrando que no nordeste não tem horário de verão. cruzamos a cidade andando. muito pequena e um certo clima. todos estranhavam nossa presença. inclusive os policiais nos abordaram perguntando o que fazíamos ali, se éramos hippies ou romeiros (peregrinos religiosos). falei que viajávamos a estudo. nos alertou dos perigos de Bom Jesus da Lapa -BA, mas que era um lugar bonito.
a rodoviária estava às moscas e fechada. a moça da lanchonete ao lado informou que ônibus só 5 horas da manhã do dia seguinte. fomos em direção à pousada mais barata, logo na saída. restou fazer última tentativa de carona. quase conseguimos prum vilarejo à margem do mapa, mas desistimos.
Carinhanha noturna.
pousada de Raimunda. dona riso-frouxo. cobrou R$ 10 e forneceu alguns mantimentos de comida. ovo, sal, açucar. fizemos nossa sopa com macarrão, carne de soja e ovos. achou que éramos doidos viajantes.
mosquitada severa e sono pra acordar 4h30 no dia seguinte.
.
07/01/2009, quarta-feira em cima da gruta.
4h45 da manhã na saída de Carinhanha-BA.
a viagem seria bem longa e o ônibus para Bom Jesus da Lapa-BA era barato. por ali diziam que carona não acontecia. sono violento numa das piores estradas que pegamos. impossível acelerar, pois era tudo esburacado. chegamos meio dia de tão lerdo. achamos pousada de dona Wilma. R$ 12,50 com café-da-manhã. um dos melhores da viagem. fomos passear pela cidade da gruta.
chapéuzão.
indagador.
um lugar que recebe milhares de fiéis e turistas por ano. há uma movimentação confusa e interessante. é um centro religioso, onde uma igreja fora construída dentro de uma gruta. um castelo. chama-se "Gruta da Igreja". é o que move civilização por lá.
gruta por fora.
e por dentro.
e subindo.
lá em cima.
e subindo mais.
e mais lá em cima.
foi uma boa e inesperada caminhada. rondamos mais pela cidade. almoçamos. sorvete de sobremesa. começou a chover. nada mais de interessante acontecia pra ficar por lá. dia seguinte seguiríamos estrada, provavelmente em direção à Ibotirama-BA ou até Barra-BA, mais ao norte.
lanche da noite. sono.
.
'caminhantes suspeitos de Marte surpreendemos uma Bahia atípica de sul chuvoso. perseguidos, fugimos por água e por terra. suspeitamos humildemente sermos os mensageiros da chuva que comove e faz esverdear sertões. vimos mato onde geralmente não há. troço virgem e descuidadosamente crescido. estrada que o chão barreou de beirada, sobrando só cascalho. despedimos de Minas Gerais cruzando rochas desconhecidas ensinadas por índio de Xakriabá. em seguida, mistério de fronteira invisível sobre o rio - de cá se é, de lá também, distintos porém. mudança sacana de tempero no sotaque - de manso acolhedor à raspado acarinhado (queijo minas à rapadura).
notoriamente, há uma fé que lateja, absorvida pela instituição religiosa. (infelizmente) acaba se refletindo assim, mas a gama espiritual transcende qualquer questão. no ar vibra uma sensação de bênção. o som do batuque avisa. a cantoria de rua ora. as palavras crêem. local onde as urgências se distraem; quando não estreiam.'
[extraído do caderno da viagem]
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em favor da correnteza.
uma lancha de madeira para 12 pessoas abrigava 40 e suas bagagens. os barqueiros fazem esse trajeto todos os dias. nos parecia mesmo a melhor opção. seria pelo Rio São Francisco. calor que abafava. rio de molhar e beber.
meio dia.
bagagens protegidas ao fundo.
imaginação.
a todo momento, alguém pedia que o deixasse em um suposto cais no meio do nada. moradores da região mesmo. cenário de filme. às vezes, a família esperava na beira do rio. fronteira sertaneira que só vendo. o tempo é íntimo da natureza.
vozes arrastadas de Bahia sempre sacanas em piadas: uma moça gorda mexia com todos os passageiros - "esse carregamento é pros homi!" -, um lhe retrucou sarcástico - "vai fazer nada com esse braço grande aí não?". perguntaram também sobre nossa viagem e afirmaram "cês tão de vizinho".
vizinhança.
janela de urinol.
conforme chegávamos, uma nuvem sentia nosso cheiro de longe. nos seguia e anunciava o mato de amanhã. a lancha picou-se veloz pra escapar. já éramos Bahia prestes a desembarcar em Carinhanha. ajeitamos novamente nossas proteções de chuva nas malas.
cospe luz.
saltamos e e nem hesitamos em procurar saber do próximo ônibus. já eram 17 horas. estava tarde pra caronas, lembrando que no nordeste não tem horário de verão. cruzamos a cidade andando. muito pequena e um certo clima. todos estranhavam nossa presença. inclusive os policiais nos abordaram perguntando o que fazíamos ali, se éramos hippies ou romeiros (peregrinos religiosos). falei que viajávamos a estudo. nos alertou dos perigos de Bom Jesus da Lapa -BA, mas que era um lugar bonito.
a rodoviária estava às moscas e fechada. a moça da lanchonete ao lado informou que ônibus só 5 horas da manhã do dia seguinte. fomos em direção à pousada mais barata, logo na saída. restou fazer última tentativa de carona. quase conseguimos prum vilarejo à margem do mapa, mas desistimos.
Carinhanha noturna.
pousada de Raimunda. dona riso-frouxo. cobrou R$ 10 e forneceu alguns mantimentos de comida. ovo, sal, açucar. fizemos nossa sopa com macarrão, carne de soja e ovos. achou que éramos doidos viajantes.
mosquitada severa e sono pra acordar 4h30 no dia seguinte.
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07/01/2009, quarta-feira em cima da gruta.
4h45 da manhã na saída de Carinhanha-BA.
a viagem seria bem longa e o ônibus para Bom Jesus da Lapa-BA era barato. por ali diziam que carona não acontecia. sono violento numa das piores estradas que pegamos. impossível acelerar, pois era tudo esburacado. chegamos meio dia de tão lerdo. achamos pousada de dona Wilma. R$ 12,50 com café-da-manhã. um dos melhores da viagem. fomos passear pela cidade da gruta.
chapéuzão.
indagador.
um lugar que recebe milhares de fiéis e turistas por ano. há uma movimentação confusa e interessante. é um centro religioso, onde uma igreja fora construída dentro de uma gruta. um castelo. chama-se "Gruta da Igreja". é o que move civilização por lá.
gruta por fora.
e por dentro.
e subindo.
lá em cima.
e subindo mais.
e mais lá em cima.
foi uma boa e inesperada caminhada. rondamos mais pela cidade. almoçamos. sorvete de sobremesa. começou a chover. nada mais de interessante acontecia pra ficar por lá. dia seguinte seguiríamos estrada, provavelmente em direção à Ibotirama-BA ou até Barra-BA, mais ao norte.
lanche da noite. sono.
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'caminhantes suspeitos de Marte surpreendemos uma Bahia atípica de sul chuvoso. perseguidos, fugimos por água e por terra. suspeitamos humildemente sermos os mensageiros da chuva que comove e faz esverdear sertões. vimos mato onde geralmente não há. troço virgem e descuidadosamente crescido. estrada que o chão barreou de beirada, sobrando só cascalho. despedimos de Minas Gerais cruzando rochas desconhecidas ensinadas por índio de Xakriabá. em seguida, mistério de fronteira invisível sobre o rio - de cá se é, de lá também, distintos porém. mudança sacana de tempero no sotaque - de manso acolhedor à raspado acarinhado (queijo minas à rapadura).
notoriamente, há uma fé que lateja, absorvida pela instituição religiosa. (infelizmente) acaba se refletindo assim, mas a gama espiritual transcende qualquer questão. no ar vibra uma sensação de bênção. o som do batuque avisa. a cantoria de rua ora. as palavras crêem. local onde as urgências se distraem; quando não estreiam.'
[extraído do caderno da viagem]
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2 comentários:
ebba
bom jesus, bom jesus,
santuário religioso baiano!
eu já fui!!!!!
Aqui já dá pra perceber que a magia tomou conta dos viajantes..
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