12. reencontro com o Velho Chico

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14/01/2009, quarta-feira xique.


cedinho café no mercadinho e 2 Km quentes até o trevo. rapidamente, um carro encostou. era a 17ª carona com os amigos cinquentões Lafayete e Gisele. disseram que Xique-Xique era cidade orgia. começamos a crer na fama. conversaram sobre a ditadura nos anos 60, sexo, drogas, caronas e plantações de tomate. Gisele contou que quase levou tiro de um fazendeiro, "ele queria nos subtrair". ouvimos mais que falamos. deixaram-nos num trevo no meio da estrada. deserto de civilização. o mais perto era uma cidade bem pequena e roceira chamada Central, que ainda assim era distante.


por aqui...

por ali...

os dois lados do deserto.




esperamos algum tempo recostados numa árvore salvadora de calor. felizmente, um carro parou. um possante Caravan antigo, cujo banco da frente era um só e o câmbio de marcha ficava ao lado do volante. Gilmar guinchava um Corsa com um homem dentro por uma grande corda. hesitou, mas aceitou nos levar. foi a 18ª carona.


relíquia.


o rapaz se divertia dirigindo em zigue-zague para escapar da buraqueira (as estradas da Bahia são uma merda). falava pouco e acenava para quase todos os carros que passavam, parecia ser conhecido na região. fazia um calor infernal, de derreter idéias. a corda soltava a todo momento e Gilmar tinha que encostar para recolocá-la. 11h da manhã, faltando 20 Km para chegar, parou de súbito num quiosque para tomar uma cerveja. não tivemos opção a não ser esperar.


caravan verde e corsa guinchado por uma corda.


lugar seco, distante, com vida própria, perto de roças sertaneiras. um carro com o porta-malas aberto gritava um som "o homem da favela/ da canção tão triste/ vocês não sabem quem é/ mas o José existe". só rindo. pra completar, um bêbado nos abordou e me disse que eu deveria deixar a barba crescer e ser pai. foi só o que pude captar. não entendi 90% do que ele falou. voltamos pra estrada e finalmente chegamos na entrada Xique-Xique sãos e salvos, quando Gilmar teve que encostar para resolver algo e muitas moscas nos cercaram. pegamos as coisas e andamos cidade adentro.




Xique transada.


clima pacato, não correspondia à fama que tinha. simpática e cheia de pequenos comércios. inclusive uma locadora suspeita - "Sorvete Piratão". o que te leva a crer? ficamos na pousada "Lá em Casa". R$ 5 quarto com suíte, dividido por uma fina cortina e cujo chuveiro era um cano com água do Rio São Francisco.


estampado na parede do quarto.


o nome do rapaz que nos atendeu é Epaminomas, o mais único que eu já conheci. caminhamos e tiramos fotos no porto e arredores. almoçamos um pf bem servido numa churrascaria à céu aberto.



porto Xique.


cidadezinha portuária bem interessante, sem as tão prometidas orgias, porém. sondamos e descobrimos que a bagunça ocorre nos fins-de-semana e ainda era quarta-feira. não ficaríamos mais, pois já havíamos estacionado por muito tempo na Chapada. nossas opções de saída eram barco ou conduções pseudoclandestinas pelas roças sertaneiras. novamente, optamos por água. nossa lancha barqueira partiria no dia seguinte para Pilão Arcado-BA, cruzando, mais uma vez, o Velho Chico, já bem mais perto de Pernambuco. hora de mudar de Estado.


Xique noturna.


e sono.




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15/01/2009, quinta-feira rasgando o Chico de barco.


acordamos quase na hora de pegar o barco. apressamos pelas ruas. tomamos um ligeiro suco com pães na padaria e seguimos para o porto. parecia ser mais seguro que aquele primeiro que atravessamos de Minas à Bahia. era maior e tinha coletes para todos, caso precisasse. faz o trajeto toda semana às quintas-feiras. viagem longa de 7 horas de duração. colocaram gente demais (cerca de 50 passageiros). redes para o pessoal se acomodar. até sacos de comida, fogão e geladeira à bordo. parecia aqueles filmes sobre o nordeste do Brasil.




movimento de saída.


calor e demora para sair. um bêbado cantarolava e mexia com todos entorno, o que deixava a situação mais cinematográfica. pelo menos ele dormiu a viagem toda.



prevenção.


durante o trajeto, muita interação entre os tripulantes. longa viagem com desembarques em vários pontos. nós éramos gringos. curioso notar a cultura inserindo-se no meio da situação, sendo o momento. era esse tipo de percepção ao longo de toda a andança. sensação incrível de unidade. até o ponto de tornar-se algo mais corriqueiro, menos alegórico. pra matar a fome, banana e goiabada com café que ofereciam.


prece, sono e imaginação.


janela do céu e os guris.


travessia via santo.



desembarques...


conhecemos a faladeira Elaine. quer aprender a tocar saxofone. ainda está no colégio. gostaria de ser veterinária, mas detesta gato e cachorro. decidiu, então, ser juíza. adora subir em pé de manga. tem dois xodós materiais: usava um chapéu com seu nome grifado e carregava um caderno "moranguinho" com depoimentos de amigos, amigas e dela mesma. pediu que eu e Pedrinho escrevêssemos algo. insisti que fosse à Chapada, já que ela é baiana e nunca foi. conhece São Paulo, pois tem parentes lá e quer conhecer o Rio de Janeiro.


Elaine e Pedrinho.


conhecemos também Zezinho, o violonista. puxou o instrumento e musicou-se. Pedrinho perguntou a ele qual era a distância que atravessávamos no momento. o rapaz só sabia responder "12 léguas". rimos, pois jamais saberíamos passar para quilômetros. e ninguém sabia. toquei uma música também. foi bom para distrair o passeio.


Zezinho caricato.


faltando 1 hora pra viagem acabar, subi na lateral e pude ver a parte superior do barco. alguns homens lá conversavam sentados. não me avexei e perguntei: "ô rei, num tem como subir aí não?". o rapaz que ajudava a comandar o barco nem hesitou, fez sinal que subisse. Pedrinho e eu em dois tempos já estávamos acomodados ali em cima com vista privilegiada do Velho Chico até onde os olhos não alcançavam. muita vista bonita de dunas de areia com mato. um entardecer metido à esplendor. Elaine amedrontou-se em nos acompanhar.




despedida tênue.


chegamos já de noite no porto dos peixes próximo à Pilão Arcado-BA. arriscamos pedir carona para Elaine até a cidade, mas não foi possível. pegamos uma condução bem barata na caçamba de um homem com outras pessoas. valeu muito a pena. a estrada de terra do porto à pequena cidade não tinha iluminação alguma, a não ser as estrelas. tive um torcicolor estelar de tanta admiração pela estampa sideral. cada experiência visceral dessa alargava minha alma a extremos soltos. por fora, arrepios.

pousada pechinchada em Pilão Arcado-BA por R$ 6. jantar apimentado.


relatos.


e sono.



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Um comentário:

Marcelo disse...

Muito massa ter pego o barco para atravessar a represa de sobradinho!!